Leo Feltran
Cerveja caseira
O brasileiro é fã de cerveja por excelência. E como tudo que desperta paixões, a bebida dá pano para manga em discussões sobre o que é certo ou errado a respeito do consumo. Entre os dilemas mais frequentes estão aqueles relacionados à temperatura ideal, que divide opiniões entre consumidores e público gourmet. O iG Comida propôs a mestres cervejeiros e especialistas no assunto que nos ajudassem a responder dúvidas e mitos sobre a cerveja. Tudo para que o leitor beba melhor – ou ao menos, tenha mais argumento para debater na mesa do bar.
1. Gelada demais x gelada de menos
2. Como gelar mais rápido?
3. A escolha do copo é importante?
4. Onde guardar?
5. Latinha x garrafa
6. É melhor gelar a garrafa deitada ou em pé?
7. Que tal uma degustação?
8. Quais as cervejas mais refrescantes?
9. Existe drinque com cerveja?
10. Por que a cerveja fica “choca”?
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1. Gelada demais x gelada de menos
Gourmets e fãs de cervejas especiais afirmam que a bebida, quando servida em baixíssima temperatura, perde sabor e aroma. Por outro lado, grande parcela da população, consumidora das pilsens comuns, prefere a garrafa “trincando” de gelada. Difícil é dizer quem está correto. Como a forma de consumo é um hábito – e um prazer – o certo mesmo é fazer o que lhe agrada.
Cássio Piccolo, proprietário do bar Frangó, em São Paulo, pensa assim: “Não sou xiita em relação à temperatura. Acho que tudo depende da ocasião e onde você vai consumir. Uma coisa é beber em um ambiente com ar-condicionado, outra é numa praia, sob o sol”, pondera. De qualquer forma, é bom saber que mesmo as pilsens, as cervejas que devem ser consumidas mais geladas, começam a perder sabor quando estão abaixo de 4º C. “Tudo que é excessivamente gelado ou quente amortece as papilas gustativas e influencia no sabor”, explica Cássio, que prefere tomar cervejas encorpadas, como as trapistas, somente refrescadas, a cerca de 14º C, “como se faz com os vinhos”.
2. Como gelar mais rápido?
Preferências à parte, é bom saber artifícios para gelar o mais rápido possível qualquer tipo de cerveja. A dica serve para salvar quem não tem bebida gelada à mão (e quer beber), ou para aquela festa em que todo mundo leva uma caixa – sempre quente, obviamente – e a rotatividade de bebida é grande.
Freezer, freezer com a lata molhada, gelo, gelo com sal, gelo com álcool. São muitas as formas “infalíveis” de gelar rapidamente latinhas e long necks, mas qual é a mais eficiente?
Para o engenheiro químico Sidney dos Santos, trata-se apenas de combinar dois fatores: temperatura baixa e superfície de contato. “Colocar no freezer realmente é a forma de atingir a temperatura mais baixa possível, mas é mais demorado, porque o ar não é um bom condutor de temperatura. A forma mais rápida é colocar bastante gelo e água, para que ela envolva toda a embalagem da bebida e esfrie o líquido rapidamente”, explica. Mas ele alerta: dessa forma é impossível deixar a bebida mais gelada que 0º C grau. “Abaixo disso, também começaria a congelar”. E o sal? “O sal, assim como o álcool, junto com água e gelo, deixam a temperatura ainda mais baixa, tornando bem mais rápido o processo de gelar a cerveja", completa.
E o que dizer daquelas geladeiras em bares com termostato marcando 3º ou 4º C negativos? “Não se pode esquecer que aquelas geladeiras são abertas o tempo todo e há muita reposição de vasilhames. Se as bebidas ficassem lá direto, com a porta fechada, iriam congelar”, explica Cássio. Segundo a Lorousse da Cerveja, a bebida congela a -2,5º
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3. A escolha do copo é importante?
Independente do tipo da cerveja, é importante que o copo seja, ante de tudo, incolor e transparente. Só assim é possível observar a coloração e a formação de espuma da bebida. O formato também faz diferença de acordo com o tipo da cerveja e, se bem escolhido, tende a potencializar suas características. “Não é um detalhe cosmético, faz uma enorme diferença. Do mesmo jeito que existem taças adequadas para cada vinho, com a cerveja ocorre o mesmo”, explica Cássio. Apesar de existirem modelos ideais para cada rótulo – não à toa as marcas desenvolvem e vendem tipos apropriados para seus produtos – algumas regras gerais podem ser seguidas:- cervejas leves podem ser bebidas em copos tipo tulipa ou em taças com “pezinho” -- ele impede que o calor da mão esquente o líquido.
- os exemplares mais aromáticos devem ser degustados em copos com bojo largo, que favorecem o desenvolvimento dos aromas.
- os rótulos weiss (feitos com trigo) têm alta carbonatação, grande formação de espuma e um fermento que fica no fundo da garrafa e que deve ser misturado à cerveja. Por isso, ser faz necessário usar um daqueles copos compridos e mais largos no topo, que comportam 500 mililitros, chamados de weizen.
- os populares copos americanos são úteis para beber cervejas leves bem geladas. Como é pequeno, o consumo do líquido é rápido e não dá tempo da bebida esquentar, mesmo com o calor das mãos.
- as de tipo champenoise, feitas com um método de fermentação semelhante ao do champanhe, devem ser bebidas nas taças indicadas para esta bebida, do tipo flûte.
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4. Onde guardar?
“Uma premissa da cerveja é que quanto mais jovem ela for consumida, melhor. Então, armazenar não é aconselhado”, orienta Luciano Horn, mestre cervejeiro da Ambev. De qualquer forma, para guardar garrafas e latas, o melhor é mesmo a geladeira, ou, ao menos, um ambiente fresco e protegido do sol.
5. Latinha x garrafa
Muitos consumidores preferem a “cerveja de garrafa”. Mas a verdade é que não há nenhuma diferença entre este produto e o embalado em latinhas. “O processo de produção da bebida é igual. O que existe é uma pequena diferença de resistência da garrafa, que acaba retendo mais gás carbônico, mas isso é imperceptível ao paladar”, diz Luciano.
6. É melhor gelar a garrafa deitada ou em pé?
De preferência, em pé. Porque você tem um pouco de ar residual na garrafa e o oxigênio é prejudicial à cerveja, pois causa o envelhecimento do líquido. “A garrafa em pé diminui o contato com o ar. Mas a maioria das cervejarias hoje trabalham com o mínimo de oxigeno residual – diminuindo a diferença entre uma e outra posição para armazenar e gelar.
7. Que tal uma degustação?
Para começar, é indispensável que os copos estejam limpos e secos. O ideal é seguir uma linha para guiar a degustação: cervejas diferentes de um mesmo fabricante ou cervejas do mesmo estilo, mas de fabricantes diferentes. Escolhidos os rótulos, é indicado começar com as mais leves primeiro, partindo para as mais encorpadas e alcoólicas. Para aguçar os sentidos, é aconselhável que os participantes não tenham consumido bebidas alcoólicas no mesmo dia. Para perceber as características de cada bebida, é essencial que elas sejam servidas na temperatura adequada.
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8. Quais as cervejas mais refrescantes?
Definitivamente, as do tipo larger, em especial as pilsens. E, vale lembrar, elas não se restringem às marcas populares – uma pilsen da República Tcheca, mais amarga, pode ser muito refrescante. Mas há outras opções. "Acho as bières blanches da Bélgica [feitas de trigo] excelentes pedidas para o calor. As cervejas de trigo da Alemanha também são bem refrescantes e as lambic com frutas também podem ser boa opção de aperitivo em dias quentes”, sugere Cássio.
9. Existe drinque com cerveja?
São poucos, mas existem. No México, a michelada é muito popular. Consiste de limão, um pouco de sal, cubos de gelo, cerveja pilsen e pimenta chilli em pó na borda do copo. Há variações da bebida em outros pontos da América Latina, que pode levar suco de tomate e outros temperos. Nos EUA também é possível encontrar variações de margaritas feitas com cerveja, assim como no Brasil alguns bares já se arriscaram a oferecer caipirinha de cerveja – o resultado é um refresco de cevada, com sabor diluído e “temperado” pelo limão.
10. O que é a cerveja “choca”?
Três efeitos indesejáveis na cerveja podem resultar numa bebida alterada, chamada popularmente de “choca”: a) perda de gás carbônico, por conta de algum defeito na tampa ou pelo “esquenta-esfria” da garrafa, que faz a tampa se contrair e expandir – e, consequentemente, escapar o gás; b) cerveja “velha” ou mal transportada ou armazenada e que perdeu suas características ideais; c) coagulação da proteína da cerveja – de novo por causa do processo de “esquenta-esfria” feito algumas vezes. Nesse caso, a bebida não tem sabor alterado, mas seu aspecto fica comprometido, levemente leitoso, num efeito chamado de turbidez.
Bebidas alcoólicas são proibidas para menores de 18 anos. Se beber, não dirija.