Histórias de palhaço
(10 de janeiro de 2006) -
Entre os artistas circenses existe um adágio que diz que todo palhaço é ladrão de mulher. No caso de Francisco
Domingos da Costa, o famoso Carrapicho, 55 anos, o problema não foi roubar mulher e sim, quase se envolver,
involuntariamente, num caso de incesto. Conquistador nato, ele estava na portaria do circo, quando uma morena vistosa
aproximou-se e puxou conversa. O caso já ia descambando pra namoro e a moça até já havia convidado o palhaço
para conhecer a família dela. Tudo estaria bem se o rapaz não perguntasse qual era a cidade onde moravam os futuros
sogros. Checando nomes e parentescos os dois provaram que eram irmãos.
Essa estranha love story se passou numa cidade do Brejo da Paraíba. E a pretensa namorada de Carrapicho, agora sua
irmã, era uma garotinha que começava a engatinhar quando, 20 anos atrás, o mano saíra de casa. "Perdi uma namorada
mas ganhei uma irmã. Ela foi a mensageira que Deus mandou para que eu voltasse ao seio da minha família", lembra
Domingos. No dia seguinte, ele e a irmã foram visitar os pais numa cidade vizinha. E a idéia de namoro nunca mais
passou pela cabeça de nenhum dos dois.
São histórias de circo. Ou melhor, do palhaço do Alana Circo, atualmente armado em Cuitegi, na região do Brejo, a 110 Km
da Capital. Aliás, Carrapicho não nasceu palhaço. Na sua juventude, ele trabalhava com o pai, o velho Tarzã Moreno e
um irmão, José Fragoso, este sim, o palhaço de um circo mambembe. Carrapicho era o trapezista. Um dia, o palhaço
Formiguinha saiu para jogar bola e não voltou a tempo de fazer seu número no espetáculo. Tarzã, homem de princípio
ético muito rígido, não contou história: olhou para Domingos e ordenou que ele fosse fazer o povo rir de qualquer maneira.
Tarzã deu a ordem e correu para o picadeiro. Em seguida, anunciou o palhaço Carrapicho, que entrou em cena ainda
vestindo a roupa de trapezista por baixo das ceroulas de palhaço. Deu-se bem. Permaneceu no ar por algum tempo.
Depois, afundou o pé na terra e, até hoje, nunca parou de fabricar gargalhadas. Carrapicho não decora texto. Tudo que
sai no picadeiro é fruto de sua fértil imaginação. Com ele, a platéia solta o riso por qualquer coisinha. E haja piadas para
a platéia, que as rebate de qualquer maneira.
O espetáculo começa com o próprio Carrapicho anunciando as atrações: "Atenção, senhores, vai para o palco, agora, a
garotinha Sandrinha". A menina, com seus 16 anos, dança uma espécie de rumba. O público aplaude. Sandrinha
retribui com risos. Acaba o número. Aí Carrapicho entra em cena, convidando dois rapazes para uma brincadeira. Os
voluntários caminham até o centro do picadeiro. O palhaço começa: "Solteiros, casados ou veados?" O público faz opção
pelo último substantivo. A essa altura a vergonha já passou e os voluntários rebatem as piadas da platéia. Todos se
divertem. No entanto, nem só de alegrias vivem os palhaços.
Em Alagoinha, no meio de uma dessas brincadeiras, um rapaz xingou a mãe de Carrapicho. O palhaço deu o troco com a
mesma moeda. No final da noite, ao sair a última pessoa, o cara estava lá, na rua, desafiando Carrapicho para uma
briga. O palhaço usou a cabeça: pediu desculpas e ainda perguntou: "Ô, cara, você vai ligar para brincadeira de palhaço?"
O rapaz aceitou a dica de paz e desistiu da briga. Outra vez, em Pilões, no meio do espetáculo, uma notícia ruim: o cara
entrou depressa no circo, procurou Carrapicho e disse que seu pai, Tarzã Moreno, havia morrido.
Aos 9 anos, Rufino Costa
foge de casa para o circo
José Rufino da Costa, 37 anos, é o dono do Alana Circo. Além de empresário circense ele também faz o papel do
palhaço Pára-choque, autor de histórias que fazem qualquer um morrer de rir. Uma delas. Ele trabalhava num circo onde
o patrão não gostava de pagar. Principalmente a ele, Pára-choque, uma das principais atrações. Depois de discutir com o
chefe, Pára- choque saiu durante a madrugada com a família. O circo ficou com o espetáculo desfalcado.
Pára-choque já viveu com 29 mulheres. Mas, nos últimos 13 anos, amarrou-se com Adaílsa, 28 anos, uma das
bailarinas do Alana Circo. Os dois se conheceram em Esperança (PB). Adaílsa havia arribado com o circo em Barra de
Santa Rosa. Sessenta e um quilômetros adiante Rufino convidou-a para ser a madrinha de uma noiva de casamento
junino, onde Rufino era o próprio noivo. Na hora do casamento de mentirinha, Rufino resolveu que a noiva ia ser Adaílsa.
"Foi quando ela virou noiva de verdade", conta ele.
Parou aí? Não. Rufino, igual ao seu amigo Carrapicho, tem a vida centrada em altos e baixos. Aos nove anos fugiu de
casa, para trabalhar como auxiliar do dono do Circo Continental, que armara em Dona Inês, na região do Brejo, para
uma temporada. Isto foi em 1977. O camburão da polícia foi buscá-lo nove vezes. Igual número de vezes ele voltou
para o circo. Terminou ficando de vez.
Atirador de facas e trapezista
Hoje, Pára-choque dirige seu próprio circo. Gradativamente ele vai substituindo a velha empanada, por coloridas tiras de
lona leve. Para cobrir o circo todo, são necessários R$ 8 mil. Pára-choque acredita que chegará lá. Sua melhor noite
de faturamento foi de R$ 150,00, quando a Prefeitura de Cuitegi patrocinou um espetáculo de portas abertas. Já
juntou uma platéia grande, que rendeu féria de R$ 200,00, com o ingresso a R$ 1,00. Se, um dia, o circo encher
totalmente, o apurado chega aos R$ 600,00. Por enquanto, isto ainda não aconteceu.
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